top of page

De Guiné-Bissau a Frederico Westphalen

Uma jornada pela educação

_DSC0018.jpg

(Foto: Isadora Torres) 

Título da seção

Dentre as histórias que cruzam fronteiras e oceanos, encontra-se a de Samba Sané, um professor e pesquisador de 59 anos que trouxe a cultura de Guiné-Bissau para o coração do Rio Grande do Sul. Atualmente docente na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Samba compartilha não apenas conhecimentos acadêmicos, mas também vivências que refletem a força de sua trajetória.


 

Nascido em Guiné-Bissau, um pequeno país da África Ocidental, Samba cresceu em um ambiente de ricas influências culturais. Enquanto o português é a língua oficial, o crioulo – uma mistura de português e línguas africanas – é a mais falada entre os habitantes, complementada pelo francês, aprendido devido à proximidade com países falantes da língua.

“Aqui vai uma frase de olho, mas isso é um teste. A frase não pode ser muito grande”.png

Meu nome é Samba, para nenhum brasileiro esquecer.

- Samba Sané

Mapa da jornada de Samba

Aos 26 anos, em 1991, Samba tomou a decisão de deixar sua terra natal para estudar no Brasil. Ele foi aceito na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), onde cursaria Administração. “Eu fui o primeiro estudante africano na Unijuí,” relembra Samba, com orgulho. Essa pioneira jornada não foi isenta de desafios. Lidar com as diferenças culturais e, em alguns casos, preconceitos, exigiu paciência e determinação. Ainda assim, ele construiu laços profundos com professores e colegas, que o ajudaram a superar as adversidades.

“Aqui vai uma frase de olho, mas isso é um teste. A frase não pode ser muito grande”.png

Eu fui o primeiro estudante africano na Unijuí.

- Samba Sané

Aos 26 anos, em 1991, Samba tomou a decisão de deixar sua terra natal para estudar no Brasil. Ele foi aceito na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), onde cursaria Administração. “Eu fui o primeiro estudante africano na Unijuí,” relembra Samba, com orgulho. Essa pioneira jornada não foi isenta de desafios. Lidar com as diferenças culturais e, em alguns casos, preconceitos, exigiu paciência e determinação. Ainda assim, ele construiu laços profundos com professores e colegas, que o ajudaram a superar as adversidades.


Samba concluiu a graduação em 1994 com um desempenho ótimo desempenho acadêmico, o que lhe garantiu um curso de especialização em Administração Estratégica, também na Unijuí, que cursou até 1996. “Foi um período de grande aprendizado e crescimento, tanto pessoal quanto profissional.” Ressalta.


Após completar seus estudos no Brasil, Samba retornou à Guiné-Bissau em 1996 para trabalhar. Atuou no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, uma instituição voltada à produção de conhecimento científico, onde atuou como pesquisador e administrador. Ele também lecionou na universidade local, combinando sua formação em administração com sua paixão pelo ensino.


Mesmo de volta à África, a conexão com o Brasil permaneceu viva. Em 2004, aos 39 anos, Samba foi convidado a participar da primeira turma de mestrado em Desenvolvimento e Gestão de Organizações da Unijuí. Desta vez, ele trouxe consigo sua família: a esposa, Fatumata, e a filha mais velha, Baluta, então com três anos. A mudança foi uma decisão significativa, mas ele estava determinado a aproveitar essa oportunidade para avançar ainda mais em sua carreira.

Samba e sua esposa, Fatumata. (Foto: arquivo pessoal de Samba Sané)

Samba e sua esposa

Após concluir o mestrado, Samba foi convidado por colegas professores para dar aulas na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), em Frederico Westphalen. Inicialmente, o convite era para um período de seis meses, mas logo ficou claro que sua contribuição seria muito mais duradoura. Entre 2006 e 2012, ele lecionou em cursos de Administração, Comércio Exterior e Ciências Contábeis, se tornando conhecido na cidade em cada canto que passava.
Em 2013, Samba assumiu o cargo de professor na UERGS, onde trabalha até hoje. “O ensino é uma maneira de compartilhar não apenas conhecimento, mas também experiências de vida. Quero que meus alunos entendam o mundo como um lugar de diversidade e aprendizado mútuo.”


Viver no Rio Grande do Sul trouxe momentos singulares de adaptação e descobertas culturais. Samba recorda, com humor, do primeiro contato com o chimarrão: “Foi o chá mais longo da minha vida, era amargo. Quando eu ouvi o barulho de ronco, senti um alívio!”. Além disso, ficou surpreso com a paixão dos gaúchos pela carne, especialmente em churrascos, onde percebeu que a carne ocupa lugar central na culinária local.


A culinária, aliás, é um dos elos entre seus dois mundos. Em casa, ele e a esposa, Fatumata, preparam pratos típicos da Guiné-Bissau, como arroz com caldo de amendoim e pastel de peixe. Esses pratos são frequentemente compartilhados em eventos culturais organizados com amigos e vizinhos, fortalecendo os laços entre a comunidade local e as tradições africanas.
A roupa tradicional africana também é uma parte importante de sua identidade. Samba explica que as roupas coloridas de sua terra natal não são apenas um símbolo cultural, mas também uma celebração das crenças e tradições de seu povo. “Minha esposa e minhas filhas adoram usar roupas africanas. Elas representam nossa conexão com nossas raízes.”

Ao longo dos anos, Samba e Fatumata viram seus filhos crescerem no Brasil, mantendo vivas tanto as tradições africanas quanto as brasileiras. Baluta, a filha mais velha, está prestes a se formar em Biomedicina, enquanto Djenabu, a filha do meio, segue firme em sua trajetória acadêmica. O caçula, Adulay, que nasceu em Frederico Westphalen, está descobrindo suas raízes através da língua crioula, costume esse que a família Sané não perdeu, em casa só se comunicam na língua nacional.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, Samba encontrou em Frederico Westphalen um lar e um espaço para construir seu futuro. Ele acredita que a cidadania vai além de um local de nascimento ou de moradia, mas está nas ações e responsabilidades de cada indivíduo. “Estou bem aqui, mas o amanhã ninguém sabe. Enquanto estiver, vou continuar focado no meu trabalho e contribuindo com a comunidade. Onde você está é o seu lugar. Ser cidadão é cumprir suas obrigações, fazer a diferença onde você estiver e construir pontes para um mundo melhor.” 


A presença de Samba Sané em Frederico Westphalen transcende as salas de aula. Ele se tornou uma figura ativa na comunidade local, participando de eventos culturais, colaborando com organizações sociais e promovendo a integração entre culturas. Samba encontrou formas de compartilhar suas tradições africanas em jantares temáticos e palestras, despertando a curiosidade e a admiração dos moradores. Em Frederico, Samba não apenas construiu uma vida para sua família, mas também se tornou um símbolo de como a diversidade enriquece e fortalece uma comunidade.

“Aqui vai uma frase de olho, mas isso é um teste. A frase não pode ser muito grande”.png

Onde você está é o seu lugar.

- Samba Sané

A presença de Samba Sané em Frederico Westphalen transcende as salas de aula. Ele se tornou uma figura ativa na comunidade local, participando de eventos culturais, colaborando com organizações sociais e promovendo a integração entre culturas. Samba encontrou formas de compartilhar suas tradições africanas em jantares temáticos e palestras, despertando a curiosidade e a admiração dos moradores. Em Frederico, Samba não apenas construiu uma vida para sua família, mas também se tornou um símbolo de como a diversidade enriquece e fortalece uma comunidade.

Fonte: Samba Sané.

bottom of page