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De Caracas a Frederico Westphalen

A jornada de esperança de Adriana Galboa

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(Foto: Isadora Torres) 

Dentre as histórias que viajam até a princesinha do médio Alto Uruguai, Frederico Westphalen, está a história de Adriana Carolina Galboa, uma professora e pesquisadora de 51 anos, que deixou Caracas, Venezuela, para construir uma nova vida em solo gaúcho.
 

De personalidade irradiante, Adriana é conhecida por seu sorriso sempre presente, sua fala sorridente e acolhedora, com uma simpatia que conquista quem a conhece. A vaidade é outra característica forte: está sempre arrumada, com maquiagem e acessórios que externam sua nacionalidade venezuelana.

Adriana dedicou mais de duas décadas à docência e à pesquisa na Venezuela, sua terra natal. Doutora em geoquímica e com vasta experiência acadêmica, ela enfrentava as dificuldades impostas pela grave crise econômica e social de seu país. O colapso na infraestrutura e a hiperinflação afetaram todos os aspectos da vida cotidiana, tornando o trabalho árduo insuficiente para suprir necessidades básicas.



A deterioração da qualidade de vida, combinada com a falta de oportunidades acadêmicas, a levou a aceitar uma alternativa inesperada. Sua amiga, também pesquisadora, lhe mostrou um edital para refugiados. “Minha amiga disse: ‘Adri, isso é você. Essa é sua chance de fazer ciência e se imergir em outra cultura’”. A oportunidade surgiu em um edital da CAPES voltado para refugiados, que abriu as portas para sua migração ao Brasil. O programa, que buscava profissionais qualificados, oferecia a oportunidade de continuar contribuindo com a pesquisa acadêmica em solo brasileiro. Após um difícil processo seletivo, afinal Adriana não sabia falar português, a venezuelana foi aprovada e decidiu embarcar neste desafio.

A adaptação em Frederico Westphalen trouxe desafios e descobertas. Adriana cruzou a fronteira por Roraima, passou dois dias em Boa Vista e, de lá, embarcou em um ônibus rumo ao sul do país, com todas as despesas de transporte custeadas pela universidade. Chegando em Frederico, foi muito bem recepcionada pelos colegas, mas apesar da recepção calorosa, a barreira linguística e a distância da família tornaram o início difícil.

“Aqui vai uma frase de olho, mas isso é um teste. A frase não pode ser muito grande”.png

"Mesmo com doutorado e três empregos ao mesmo tempo, não conseguia suprir minhas necessidades básicas. Era muito difícil viver assim."

- Adriana Carolina Galboa

A crise na Venezuela é resultado de anos de instabilidade política, corrupção e má gestão econômica.

 

O país enfrenta uma grave hiperinflação, que destruiu o poder de compra da população, além de problemas crônicos como a escassez de alimentos, medicamentos e serviços básicos. 

 

Muitos profissionais qualificados, como Adriana, veem suas carreiras limitadas por falta de recursos e infraestrutura. 

 

Esse cenário levou milhões de venezuelanos a migrarem em busca de melhores condições de vida, formando uma das maiores crises migratórias do mundo.

Mapa da jornada de Adriana

Antes de chegar ao Brasil, Adriana esteve no Canadá. Retornou à Venezuela e rumou para terras frederiquenses.

Adriana sempre foi muito comunicativa, falava com todos a todo momento. Porém, quando chegou no Brasil, se calou por conta da barreira linguística, tinha medo de não ser compreendida e errar nas palavras.  Nos primeiros meses, ela se comunicava com gestos e se esforçava para aprender português. A solidão também foi uma companheira constante, já que vivia sozinha e dedicava a maior parte de seu tempo à pesquisa. 


A venezuelana criticou a universidade no quesito apoio psicológico. Muitos desses imigrantes vem para o Brasil sozinhos, sem família, amigos, sem conhecer ninguém. Alguns como Adriana, sem nem falar a língua do país, mas, aos poucos, encontrou apoio na comunidade acadêmica e entre os venezuelanos que vivem na região, formando laços que aliviaram os desafios da migração.

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Quando cozinho arepas, me sinto conectada à minha terra e à minha família.

- Adriana Carolina Galboa

Um encontro casual em um supermercado levou a uma rede de apoio formada por conterrâneos. “Conheci América, uma venezuelana que é como uma prefeita para nós. Ela conhece todo mundo e ajuda a reunir a comunidade.” Desde então, se reúnem para comer comidas típicas, acompanhar as eleições do país natal e trocar experiências e ajuda.


Na busca em se integrar com a comunidade, Adriana encontrou na música uma forma de conexão com a cultura local. Ela ingressou no coral da URI, onde compartilha seu talento vocal e vivencia momentos de integração. Além disso, para manter viva a sua tradição, Adriana utiliza da culinária venezuelana ao preparar pratos típicos como as arepas, que a ajudam a preservar suas raízes enquanto abraça as novidades do Brasil.

A descoberta da cultura gaúcha foi uma surpresa positiva. Ela se encantou com o tradicionalismo, as vestimentas típicas e a hospitalidade do povo local. A saúde pública e a segurança da cidade também chamou sua atenção, especialmente pela liberdade de caminhar tranquilamente à noite, algo impensável em Caracas.

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Achei incrível poder andar na rua à noite ou sacar dinheiro sem medo. Na Venezuela, isso seria impossível.

- Adriana Carolina Galboa

Ao final da nossa conversa, Adriana ofereceu um momento especial. Cantou El Niño Jesús Llanero, uma canção venezuelana de profunda ligação emocional. Sua voz, carregada de sentimento, foi interrompida por um nó na garganta, mas ela retomou a melodia com força: "Essa música é uma mensagem de esperança para a Venezuela." O canto emocionado deixou no ar o peso de suas lembranças e o desejo por um futuro melhor para sua terra natal.

El Niño Jesús Llanero - (Interpretada por Adriana Galboa)Simon Diaz
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Com o fim de seu contrato inicial se aproximando, Adriana reflete sobre os próximos passos. A situação na Venezuela ainda é difícil, e ela enxerga no Brasil um lugar de oportunidades. Planeja permanecer no país por mais alguns anos, contribuindo com a pesquisa científica e explorando as possibilidades que o território brasileiro oferece.

 

 


 


Sua presença em Frederico Westphalen é um exemplo de como a imigração não apenas transforma a vida de quem migra, mas também enriquece as comunidades que acolhem. Adriana trouxe consigo experiências, conhecimentos e um espírito de superação que inspiram aqueles ao seu redor. Assim, a cidade ganha não apenas uma professora, mas também uma ponte entre culturas e um símbolo de resiliência.

*Fonte: Adriana Carolina Galboa

“Aqui vai uma frase de olho, mas isso é um teste. A frase não pode ser muito grande”.png

"Aqui no Brasil, vejo um mundo de oportunidades. Quero ficar pelo menos mais dois anos e explorar tudo o que este país pode oferecer."

- Adriana Carolina Galboa

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